Contundente Melancolia
Contundente Melancolia foi uma exposicão que nasceu de uma residência artística no Museu Romantico da Quinta da Macieirinha, que me propus fazer durante quatro meses, e que se consubstanciou a partir do trabalho artístico e de investigacão que tenho vindo a desenvolver no campo das interseccões entre desenho, textil e corpo.
Os processos e os materiais texteis ancoram narrativas tão antigas quanto a história humana - tramas, teias, e fios, assim como os atos e gestos que lhe estão associados comportam sentidos para além do seu significado literal, e servem de base conceptual e metafórica ao entendimento das relacões humanas e do próprio pensamento.
A visualidade háptica é o pano de fundo de atuacão deste território híbrido que se constitui entre desenho, textil e corpo, pela incorporacão do gesto e dos movimentos dos processos texteis na esfera do desenho. Neste território exploram-se as potencialidades processuais e semanticas que lhe são conferidas por um enraizamento primordial e mítico associadas à temporalidade da espera, à impossibilidade da conclusão, e à resistencia pela passividade de uma esfera feminina.
Para esta exposicão trabalhei nestes espacos intersticiais tendo como instigador o Museu Romantico, na sua concepcão tão peculiar de representacão de mundos de uma época - atuando em algumas salas em movimentos de descontextualizacão e recontextualizacão, quer a partir de peas já existentes no museu, quer com a criação de objetos, desenhos e imagens que se instalam pelo espaco do museu, estabelecendo um diálogo com a casa, como diz André Malreaux, “num confronto de metamorfoses”.
Quanto ao título desta exposicão – Contundente Melancolia , é composto por duas palavras que à primeira vista nos remetem para um estado de espírito próprio do romantismo: melancolia, como um estado especial de tristeza resultante de um sentimento paradoxal de não-coincidencia e discronia com o seu tempo. Este sentimento paradoxal é o mesmo sentimento a que Giorgio Agamben se refere na relacão singular do “ser contemporaneo” com o nosso próprio tempo – “que a ele adere e que dele se distancia em simultaneo”, através de um desfasamento e anacronismo.
E a palavra contundente liga-se à acão de marcar, ferir e cortar, acões comuns ao desenho, textil e corpo, no aqui e agora.
Agradecimentos às curadoras do Museu Romântico, Manuela Silveira e Ana Bárbara Barros. E um agradecimento especial ao Paulo Cunha e Silva.